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Apresentação
 

É um enorme prazer estar aqui na Litteris mais uma vez para apresentar um novo projeto. Antes de tudo, agradeço muitíssimo à editora Karina Arroyo, por ter aberto as portas para o curso de Relações Internacionais da UNICURITIBA a essa prestigiada revista. O novo projeto ao qual me refiro é Política, História e Cultura na América Latina. Dando sequência a um projeto muito gratificante que foi escrever “Os Colombianos” para a Editora Contexto, resolvi me aprofundar nos estudos de América Latina e fui me apaixonado cada vez mais pela sua diversidade e complexidade. No ano de 2019 assistimos às manifestações populares no Equador, Bolívia, Chile, Colômbia, a volta do Peronismo ao poder na Argentina, a ascensão da direita conservadora no Brasil e de uma direita moderada no Uruguai, além da turbulência na Venezuela, processo que já dura alguns anos.  Foi, portanto, um ano de mudanças e nada indica que estejamos passando por um processo de estabilização. No momento em que escrevo, os protestos seguem firmes e fortes no Chile, a presidente interina da Bolívia promete novas eleições e o presidente colombiano Ivan Duque nunca foi tão impopular.

Durante os nossos encontros presenciais e no nosso grupo virtual, estes assuntos sempre estiveram em pauta e fez com que nos sentíssemos testemunhas oculares de Tempos Interessantes, como diria Eric Hobbsbawm. Este dossiê conta com seis artigos selecionados que muito me orgulharam orientar e agora cabe a mim apresentá-los.

Começando com o artigo de Lara Niehues, Madres e Abuelas de la Plaza de Mayo: História e Influência no Começo do Século XXI, em que a autora lembra a origem e a expansão deste movimento de mães (e avós) que por meio da resistência pacífica não deixaram que os milhares de desaparecidos da ditadura fossem esquecidos, mesmo tendo toda a máquina de propaganda do regime militar contra si. Niehues demonstra as diferenças de atuação entre estes grupos, como foram importantes para levar a julgamento criminosos do regime e sua atuação no século XXI.

Indo para o Chile temos o artigo de Raphael Rigoni intitulado Ascensão e Queda de Allende: o Socialismo Democrático no Chile. Creio que o grande trunfo de Rigoni é se ater aos antecedentes do Golpe de 1973, e não ao golpe em si e à ditadura de Pinochet, temas já exaustivamente estudados na Academia. O autor narra as origens da social democracia chilena, sua heterogeneidade, seu sucesso entre as camadas populares e o boicote do empresariado local ao seu governo que com apoio dos EUA leva ao golpe de 1973.

Continuando com o tema Chile, temos o artigo de Sabrina Maciel, que formada em Direito, traz uma análise do julgamento de Augusto Pinochet. O julgamento, um tanto tardio só ocorreu porque Pinochet deixou o país para ir à Inglaterra e a Espanha solicita sua prisão por violação de direitos humanos e crimes contra a humanidade envolvendo cidadãos espanhóis que, na época, residiam no Chile.  Após mais de um ano, Pinochet volta ao Chile com a condição de que fosse julgado por seus crimes. O caso Pinochet também trouxe enormes consequências em outros casos similares pois criou jurisprudência sobre a imprescritibilidade da pena em casos de crimes contra a Humanidade.

Na sequência a autora Paula Rocha nos brinda com o artigo Caminhos do Tráfico: a Rota da Cocaína na América Latina, tema clássico de estudos latino-americanos, o estudo do narcotráfico é essencial para conhecermos as teias de poder, dinheiro, criminalidade e corrupção que permeiam, em maior ou menor grau todos os países da região. A autora faz um histórico do uso de psicotrópicos e sua demanda infinita até chegarmos ao bilionário tráfico de cocaína, consumida majoritariamente nos EUA e Europa Ocidental. Fica bastante óbvio (e os fatos comprovam) de que a guerra contra as drogas baseada unicamente na repressão é uma luta perdida. Há de se tomar medidas em ambas as pontas do processo desde oferecer oportunidades a camponeses bolivianos, peruanos e colombianos para que não sejam vítimas fáceis de aliciamento, juntamente á campanhas de conscientização nos países consumidores. Fechar rotas conhecidas, apenas cria novas rotas e novos cartéis, pois enquanto houver demanda, narcotraficantes encontrarão uma maneira, via corrupção, principalmente, de criar a oferta.

O artigo de Sarah de Almeida, traz uma investigação sobre como o regime militar brasileiro, apesar de autoritário, buscava cobrir-se com um manto de legalidade para perseguir opositores, no caso deste artigo, os membros da UNE (União Nacional dos Estudantes). A autora também chama a atenção para a heterogeneidade do movimento estudantil no período em tela.

Por fim, temos um toque de arte no dossiê: o artigo de Andressa de Lara que trata da formação da identidade mexicana por meio do Movimento Muralista com incentivo oficial do Estado. Até a Revolução de 1910, o México se espelhava na cultura espanhola, um país sem identidade própria que tentava ao máximo omitir suas características indígenas. A partir do movimento de Porfírio Díaz, surge um novo México que por meio da arte, exalta a miscigenação, o operariado, a cultura asteca, reconstruindo assim a autoestima de um povo e reforçando sua latinidade.

Boa Leitura a todos!

                Prof. Dr. Andrew Traumann, março de 2020.

REVISTA DIGITAL - PUBLICAÇÕES - Nº24

1. MADRES E ABUELAS DE PLAZA DE MAYO, HISTÓRIA E INFLUÊNCIA NO COMEÇO DO SÉCULO XXI  

Lara Niehues, Andrew Traumann

2- ASCENSÃO E QUEDA DE ALLENDE: O SOCIALISMO DEMOCRÁTICO NO CHILE 

Raphael Rigoni Rodrigues, Andrew Traumann

 

3- JUSTIÇA PENAL INTERNACIONAL E AMÉRICA LATINA: ESTUDO SOBRE O JULGAMENTO DE PINOCHET

 Sabrina Hatschbach Maciel, Andrew Traumann

 

4 -CAMINHOS DO TRÁFICO: A ROTA DA COCAÍNA NA AMÉRICA LATINA

Paula Rocha, Andrew Traumann

5- DITADURA MILITAR E ESTUDANTES: O USO DO DIREITO COMO ARMA CONTRA O MOVIMENTO ESTUDANTIL- 1964 a 1979

Sarah Almeida, Andrew Traumann

6 - A ARTE COMO INSTRUMENTO DE LEGITIMAÇÃO DO ESTADO E FORMADORA DA IDENTIDADE MEXICANA NO PERÍODO PÓS REVOLUCIONÁRIO

Andressa de Lara, Andrew Traumann

7 - EDUARDO PRADO E ADOLFO CAMINHA: OS ESTADOS UNIDOS PELO CRIVO DE UM MONARQUISTA E DE UM REPUBLICANO
 
Adriano de Paula Rabelo

ENSAIO

 

A PROBLEMÁTICA DA AUTORIA NO FILME “NERUDA” (2016) 

Elaine Cristina Senko Leme

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